Prosa pobre e dolorida.

No sonho, aparece-me aquele moço, moço dos olhos dóceis, cheiro de alecrim.
Vem-me em delírios febris das noites, zela-me o corpo, com carinho... és tão forte, rendo-me.
Reparo tão bem em teus braços, nunca perdera o jeito de uma criança, mesmo que a vida tão sofrida lhe fosse.
Suor. Banha-os, fio a fio. Cabelos, tão belos e salientes, macios. O vento lhes corre atoa a contorcer-lhe, a camuflar a aura reluzente de fogo, tão cavaleiro e mesmo assim frágil como as asas lúgubres de uma borboleta voante, e fúnebre, exalando uma liberdade que jamais lhe fora prematura.
Recordo-me que pelo timbre de sua voz alta, até o desalento tornava-se graça, sem haver tempo para trevas.
Nos enlaces divinos de meus pensamentos sou arrebatada de uma nudez que me devasse, um piano velho, soa. Madeira mofada exalava os cantos e o amor é uma canção tão antiga quanto o piano a soltar-se pelos ares, o vento traz pedaços da ausência dorida que meu seio toma para si, abriga-se, faz morada e toma posse.

The Cranberies - Ode to My Family