Estação de outono

Quando o trem partiu, permaneci observando por um longo instante silente, a tênue imensidão a distanciá-lo de meus olhos, fazendo-o desaparecer como uma breve miragem.
Quando o trem zarpou ao destino, permaneci ainda na estação, sem poder ou por não possuir coragem, para subir viagem afora, e quedei-me ali, aqui.
Exausta. Olhos cansados fitam o horizonte pleno onde os sonhos morrem, como morre o sol no crepúsculo.  Sonhos que baralham-se com a fumaça da chaminé, como se confundissem-se nas mesmas cinzas carbonizadas de sua morte.
Como quem adormeceu com olhos abertos, ainda pego-me a reparar no mesmo porvir, fantasiando se com os ventos mornos de outono o trem fosse, retornar das grutas sombrias perdidas dentro todo o vasto orbe além.
 ... Ainda, vou a estação: ora nas manhãs nubladas, ora nos poentes. Um pouco viva, um pouco morta. Estação da alma, da saudade do trem que foi-se em longíquas épocas esquecidas pelos mortais.
Ainda vou a estação, por quê todos os quês da vida, são como um eterno fim de tarde.

Blackmore's Night - Wish you were here

São das épocas longíquas que morreram com minhas malditas lembranças.