Carta de Bernard para Eliza


Minha amada Eliza,
tempos e tempos se passaram desde o nosso fatídico ultimo encontro, lembro-me de como choravas, lembro-me  destes teus olhos cálidos olhando-me como a implorar que ficasse. Lembro-me do teu amor a me afagar sem toques e o espanto da tua voz com cheiro de hortelã, e eu queria, não, eu precisava ser nutrido por este aroma suave todas as manhãs. Foi doído partir, mas o olhar dos homens de camisa camuflada e estrelas no peito como que me intimavam a ir. Eu quis ficar, minha dócil, mas os destinos foram separados pelas areias do deserto. Não sei se ainda pensas em mim, se lembra meu nome ou recorda nossos instantes utópicos no paraíso dos nossos corações ardentes. Nenhum frio era pálio para nós, nossa fé era sincera, e nosso amor, quase que um romântico idealizado. Hoje, no frio desse buraco de terra, que há muito tempo venho habitando, penso no calor do teu corpo a esquentar o meu. Mas eu não quero sujar tuas delicadas rendas e fitas, as sedas que se mesclam à maciez de tua pele. Não sei se a nostalgia pode assolar mais meu coração. Não sei o que ainda estou fazendo aqui, neste campo de batalha, mal sabem os inimigos que este guerreiro já está morto,e  quem me mataste fostes tu, oh, Eliza. Ou a tua falta. Porque não posso voltar para os teus braços, para tuas xícaras de café forte e para as tuas piadas das quais ninguém no mundo além de nós riria. Para a tua amizade inocente, para o coração que deixei contigo quando parti. Mas as horas passam rápido por aqui, disso não posso reclamar. Todo o medo e adrenalina me fazem esquecer de quem realmente sou , e do porque de não querer estar aqui.Agradeço, querida, todas as alegrias que me destes, todas as flores que arrancastes dos ipês carregados em homenagem a mim. Sei que, se algum dia eu voltasse, a velha árvore com os nosso nomes a ferir-lhe a pele ainda estaria lá, à minha espera. Mas tu, não sei se já  terias cansado de esperar. Invade-me um temor ao pensar nisso, temor que já nem preciso mais. Sei que não voltarei. Se uma vez fitavas não fites mais a estrada vazia cheia de assombros pela qual eu um dia desapareci e na qual não voltarei a aparecer.  Eu sinto não tê-la agora, mas sinto mais saber que nunca a terei de novo. A sensação que tenho agora  é a de estar nos braços do inimigo. Essa sensação não durará por muito. Despeço-me com a desonra de não ter sido o cavalheiro que mereces, mas com a vontade que encontres um à altura.
Do ainda uma vez teu,
Bernard.





OBS: Este texto foi escrito, por uma menina com uma alma nobre de poeta. Um menina jovem e brilhante no que faz, que sempre, sempre mesmo acompanha e comenta todos os meus textos. Ana Pontes, pediu-me permissão para que pudesse escrever sobre Bernard e Eliza, mesmo não conhecendo a história a fundo. E com base em todos os meus textos sobre o casal de amantes de eras distantes, Ana deu-me esta maravilhosa carta de presente. E o fez tão incrivelmente bem, que confesso ter ficado tempos assustada, em como que a estória da carta, coincidentemente assimila-se com a história do cavaleiro Bernard com sua Eliza.
Ana Pontes tem uma alma sensível e frágil, escreve como em lágrimas e sussurros. Eu, conhecendo bem o blog dela, do qual leio sempre, recomendo com toda veracidade e certeza, de que é um blog para pessoas de alma.
A poesia flui como um bálsamo, e delicadamente ela toca nossos corações.

Palavras de uma leitora fiel, Evelyn Colaço.




Elis - Come to me

Essa canção combina muito com o texto. Tenho uma prefêrencia admirável por essa canção..


''Você viajou através do mundo
Provando suas comidas e seus amores, mas nunca ficou satisfeito...
Você estava sempre procurando por mais.
Lá fora no frio, procurando por amor, eu disse que você não precisa procurar por amor...''

Elis - Come to me.

Comentários

  1. Nossa muito lindo mesmo, a menina está de parabéns.

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  2. Aff, devido as lagrimas nos meus olhos não consigo terminar de ler esta carta. Volto depois para continuar.
    Sempre leio seus post, mas, desta vez não resisti em comentar.
    até o proximo post.
    Bom final de semana, sem o nó que esta em minha gargante neste exato momento.

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  3. Lindo..
    adoro cartas... é como se fossem confidências que a gente adentra...

    bjos querida
    otima semana pra ti

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  4. Ah, Evelyn, eu fiquei por um tempo a me perguntar o que comentar de algo tão doce, tão meigo.
    Obrigado pelas coisas que disse de mim, nem sei se mereço tantos adjetivos fofos assim.
    Eu torço, muito mesmo, para que E. tenha de volta em seus braços de fada o cavalheiro que ama, o único que poderia amar.
    Eu torço todos os dias para que tudo dê certo para corações valentes o suficiente para amar, para sofrer sem restringimentos. Capazes de sentir e ser intensamente, assim como o seu.
    Boa sorte para todos os românticos sonhadores esta noite, sucesso sempre para você,

    Ana Pontes (:

    http://anapontes-pensamentosavulsos.blogspot.com

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  5. Por onde essa vida que me levou que me perdi daqui? E tanto que perdi. Ainda bem que essas preciosidades estão salvas ao meu alcance. E sempre tão linda ainda apresenta mais uma pra fazer a gente se apaixonar pela vida.
    Obrigada.
    Saudades e saudades. Beijos.

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