Brisa fria



Da janela embaçada pela minha respiração ofegante, observo os prados e seus cata-ventos, depois da tempestade, giram tão lentamente, sem pressa; o vento agora é maresia pra aquecer meu coração nesses dias de outono, tão repletos de nostagia.
As telas que não pintei, estão esperando pela aquarela d'onde riscarei traços de teu rosto que permanecem intactos em minha memória. Lembranças percorrem o quarto vazio, apoderam-se de minha alma, espalham-se sobre os lençóis de lavanda, como no passado, Bernard fazia. Feito a terra ao redor do sol, sinto-me entre sonhos e realidades sombrias. Ainda fito os meus olhos nas linhas campestres esperando que Bernard, abra a porteira e grite-me pelo nome: E.
O tempo vai passando, como as breves chuvas dessa estação, ainda procuro enxergar alguma imagem pela janela embaçada, e lento como os cata-ventos, as palavras saem das minhas mãos machucadas.
Com o esvair da tarde, as nuvens irritam-se em um tom cinza prevalecendo contra minha esperança,  todos os traços de cores da aquarela agora são negros, e não criam formas. Não desenham teu rosto, amado Bernard.
Abro a janela antes que demasiadamente escureça, sinto tuas rizadas altas, engraçadas e inconfundivéis - únicas, eu diria -, sinto a brisa fria, brisa que vem das montanhas, vento suave que, ao crepúsculo, sopra para os vales (da minha alma), vento corrente, que sopra de noite, dos campos para o mar, dos pensamentos para o meu coração. Brisa que toca meu rosto, com a tua saudade, saudade que junto da minha é tão grande, é meu padecer de dia e de noite... O sol afasta-se, vai-se, morre no tênue horizonte, talvez as estrelas iluminem as nossas vidas, talvez a lua nos guie por algum lugar, talvez eu ainda possa te abraçar, quem sabe, talvez, talvez...




Boston - Augustana

Vale muito a pena ouvir...

Comentários

  1. Evelyn minha cara, como você mesma disse, depois do vento forte apenas a brisa sopra no prado. Se seu amor (quão raro isso não é hoje) sobrevive e sobreviverá aos ventos, basta esperar pela brisa que virá e acalentará-te nos braços de Bernard. Ainda que não tenhas pintado o rosto de teu amado nas telas que ainda esperam, sei que ele está intacto em tua memória, esperando para sair e se as palvras saem da sua mão machucada é porque talvez já não tenhas mais força para colocá-las para fora pela boca e grita aos brados que quer teu B. de volta. Ainda que a força tenha se esvaído, torço por você porque amores assim me dão força para pensar que nem tudo ficou cinza no mundo, que talvez eu ainda possa ter êxito na minha história atrapalhada de amor. É por isso que não consigo vir aqui sem chorar. Sem pensar em B. e E., sem pensar em mim e M., sem me perguntar o que estou fazendo. E sem esperar.
    Ah, garota, talvez não saibas como és doce e forte. Felicidade sempre.
    De uma leitora meio bobinha,
    Ana Pontes

    PS.: não, não me esqueci de escrever sobre o seu romance. Só preciso de tempo para escrever sobre algo tão delicado e lindo.
    PS².: a música é linda, fez-me chorar muito.

    http://anapontes-pensamentosavulsos.blogspot.com/

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  2. uma apaixonada pelo outono feito eu <3

    olá, lindo cantinho
    uma linda semana
    ...beijos e flores
    ;)

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  3. Olá. Olha, é uma tela maravilhosa esse seu texto, uma aquarela por si só. abraços

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