...


Depois do crepúsculo da tarde cair dando lugar a noite, veio-me a nostalgia carregada de uma tempestade incomum nos dias dessa estação, geralmente varridos apenas por brisas frias e nuvens estonteamente cinzas e carregadas.
As lágrimas deram cabo as palavras que há horas atrás mal saiam dos lábios, sufocadas pelas inúmeras decepções que faziam as lágrimas caírem, como caiam os fortes pingos no lado de fora da janela, como caem as folhas pardas e fracas nas tardes de outono. A dor da perda, a morte lenta dos sonhos que com tanto amor construi, porque Deus, porque?
- Por que? Perguntava-me centenas de vezes sem que resposta alguma surgisse naquele cômodo vazio e mórbido, habitado apenas por Meredith, eu e meus gemidos finos, cheios de algum sentimento tão amplo e pungente que não encontro palavras pra descrever. Meredith, por sua vez, dizia não possuir nenhuma palavra para aquelas cenas, em que o esmorecimento tomara conta completamente de meu ser e consciência. Tudo que vi surgir de suas mãos foram alguns fármacos que manteriam-me mais calma. A debilidade tomara conta do corpo, as lágrimas despencavam sem que houvesse controle sobre elas, e eu que há tempos considerava-me tão seca, via-me imersa no oceano gélido e profundo das lembranças que esgravatavam em minha cabeça como furacões destruidores e irreverentes. Amanhã, o orvalho estará presente nos galhos das folhas que os abandonam deixando-os desnudos até que toquem o chão, e os ventos do oeste virão carregados da tristeza da vida que procederei, enquanto minha mente, para sempre se encontrará vagueando nas colinas com Bernard com a alma embasbacada de seus toques e carícias, entoando canções tão bonitas quanto o dourado que o sol expande sobre as campinas depois das tubulosas tempestades. Esta madrugada esmaecerei sobre o álveo onde os sonhos arrancam-me a lucidez , quando enxergo Bernard carregando-me para longe dessa realidade soturna, onde feito cisnes em um lago suave e enlevado, bailaríamos devolutamente sobre o corpo um do outro, entretanto todos estes sonhos chocam-se-ão à realidade negra que os dias trarão, perdendo-se como o sol se perde dentre a chegada do inverno rigoroso.
Os ventos do outono, levaram-me Bernard de forma que nunca mais possa embriagar-me de sua presença, e mesmo a morte não impedirá que eu leve flores ao túmulo do cavaleiro-guardião-de-minhas-eternas-lembranças. Findou-se. Sim, findou, deixando para sempre alheio de alegria um coração que pulsava qualquer sentimento que o fazia viver - o meu.





Patrick Park - How The Heart Grows Wicked

Essa canção de certo sempre me trouxera muita tristeza, agora ela grita tudo por mim.

Escrito na casa de minha prima em 09/04/11. Tempo de composição: 23:25/03:56 am


Sem mais no momento, adeus.


E.

Comentários

  1. Saber que você existe
    E que posso contar contigo
    É o suficiente para saber que
    Não estou sozinha.

    Amizade é isso:
    Doar-se sem reservas.
    Amizade sem fronteiras é:
    Sentirmos espontaneamente
    Que o outro não é uma simples pessoa
    Mas um ser muito especial
    Que chamamos de amigo(a)
    Não por chamar mas por de fato o ser
    Quer seja no virtual ou no real
    Sempre é bom o ter.

    Tenha uma linda semana bjos.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom e profundo o texto, parabéns.Beijos.

    ResponderExcluir
  3. "(...) eu que há tempos considerava-me tão seca, via-me imersa no oceano gélido e profundo das lembranças que esgravatavam em minha cabeça como furacões destruidores e irreverentes."

    a saudade, esses solavancos repentinos e descontínuos, que nos afundam em lágrimas até nos momentos que julgamos não ter sobrado nada... ah, mais familiar que teu versos, não há; ultimamente ando sabendo bem o que é tudo isso. e você, como sempre, descrevendo toda a minha angústia em parágrafos de linda melancolia que toda a minha fúria não saberia compor.
    obrigada sempre por me descobrir, evelyn.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixa-me suas folhas ...