Never to remember

Já esperava que as sensações viessem arrepiar-me a pele. Os anos que até então vivi batem a porta, e eu preciso mantê-la trancada. As lembranças que carreguei como mancha na roupa, decidi guardar numa caixa-preta. A princípio, realmente não compartilho de muitos saberes, e prefiro que continuem imersas em qualquer coisa que não seja eu. Nego-me a fazer confissões absurdas. Não sei amar, não sei falar de amor. Alguém o sabe? Jamais sussurrarei por eras de escuridão os sentimentos dos quais não tenho certeza. Gregos acreditavam que enquanto houvesse a lembrança verbal de um deus, o mesmo permaneceria vivo e imortal, e, todavia o esquecimento lhe resultaria em morte. Não pronunciarei sentença alguma, para assim deixar morrer em mim o que por insanidade cultivei. Atitudes que me limitavam, agora não ditam os caminhos que devo andar. Sou livre, logo, sempre fui um pássaro de longas asas.

Espinhos do ciúmes na carne; arranco gemidos e ironias de mim mesma, mas sob tortura alguma que imponham-me, deixarei que essas sensações me carreguem para o lodo novamente. O lume brilhou, intenso e suave sobre o cômodo amarelo, envergonhada agradeço aos versos puros que leio, eram de Shakespeare... Sobrevivi.

Enxuta; minha alma mansa, descansa sobre o acalento de minhas desesperanças. A madrugada cai melancolicamente, e com um sorriso que beija a noite, me dispo para adormecer sobre a cama quente, despedindo-me como quem não tem medo de viver.

Não dirijo esse texto a ninguém, afinal, não perco meu tempo escrevendo para pessoas, álias isso é um motivo tão pouco, eu escrevo por mim e para mim mesma, pela vida, pelo meu prazer. Só.

[ Adele - Someone Like You ]