A todo vapor.

Em algum lugar além-do-mesmo haveriam sorrisos. Haveriam pores-dos-sol radiantes sobre a relva verde-limão. Ora, se não fora a afasia dos meus pensamentos, que aliás já me abandona felizmente noites após dias; constamente saberia que o lugar é o aqui-agora. A cada segundo, brota em meu peito sensações de uma turbulencia ledice. Tempo presente de verbos inconjugavéis, de eras cronológicas, de sonhos antagonicos que me põe de pé. A cama fria das lembranças é o destino dos que se entregam ao passado de nostalgia. Eu não. Eu já não pertenço mais aos pretéritos, desconheço os futuros, sou toda esse presente bonito que me é dado de mãos abertas e sorriso nos lábios. Serei sempre o embaraço abstrato de sentimentos que não se conhecem. Embora eu tenha a (minha) caixa desbotada das memórias que enterrada e guardada a sete palmos do chão, ainda sim, percorrer as trilhas em silêncio de alma com o canto dos sabiás, calmamente observando os rituais da natureza, parece-me muito mais glorioso, que correr em busca de uma honra corrompida, perdida nas grutas de uma caverna escura e cheia de lodo, ou descaixotar as velharias empoeiradas.

Além-do-mesmo arco-íris, há uma mundo inteiro à se conhecer, além das montanhas há lugares incrivelmente inabitados e selvagens. Meus pés caminham para onde meus olhos não vêem, e minha alma não sente. Sinto poucas coisas, e mesmo assim, sou alegre. Sou muito, muito mais as coisas belas e loucas da vida, que esperar sentada em uma cadeira de madeira mofada.

Seio de Minas - Paula Fernandes

''Sou das Minas de ouro

Das montanhas Gerais

Eu sou filha dos montes

Das estradas reais''

[ Paula Fernandes - Seio de Minas ]

Ps: a temática do blog vai mudar, postarei menos sobre o romance que gira o enredo do meu livro: Bernard e Eliza. Tentarei mudar um pouco a temática romance, pois estava deveras repetitivo. Se tiverem sugestão de possíveis casais me avisem.