Ausências I

E as ausências perfuram-me como lanças afiadas, e sou consumida de uma hemorragia. Desgastada, odeio as ilusões, os delírios que fazem com que eu veja saída em qualquer espaço que eu olhe, então estão lá, aqueles olhos grandes, castanhos e expressivos, aquele sorriso flutuante no rosto, aquela face pálida, que emana uma luz fraca e só assim eu consigo enxergar direito.  Perco minhas asas, e eu que disse por pensar ser um pássaro, não saio do chão. Repito, a saudade me arranha, me come aos poucos e fico aos restos pelos cantos dessa casa fria e escura. É de madrugada, e só há um lápis a riscar o papel, dou um gole no café, e queimo minha língua, um outro gole quente, me incendeio... talvez assim eu me aquiete, e cale as repetições e os absurdos de sentimentos que ninguém queira ouvir... cale as anedotas que o universo já se fez farto.

E das minhas angústias e preces ninguém conhece, da falta de minha juventude febril tampouco mais falarei, mas eu sinto, sinto uma mão esmagar o meu peito torturantemente e um nó na garganta... no entanto, tenho que sorrir, amar...cuidar...amar...proteger...amar...curar...amar.

Dos meus precipícios ninguém se aproxima, é fundo demais, me acostumei a conviver apenas com as flores do pântano, meus pés estão sempre assim, meia volta, o mesmo lugar, e a vontade de correr, de correr apenas para algum lugar distante...
Pausa 

                        Os olhos não permitem, e as palavras já me doem ao saltar do dedos.

Escrito ás 02:45 da madrugada do dia 09 de Julho de 2011. Numa das minhas insônias.

''Então me abraça forte

E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo.''

[ Renato Russo ]