Silêncio no Oeste

A morte é a caixa onde guardo as minhas lembranças, não há nada que transmita um sentimento que por uma faísca de minuto possa aquecer meu coração, e iluminar meus olhos. Só vivo por nostalgia. Silêncio. Quereis falar sobre a morte? Sobre a tristeza da morte onde há somente minha saudade e a dor, a dor que vive em meus cantos?

Silenciai, silenciai vós que agitais em vão meu coração, e que raio algum pode trazer (ou pode?) para meus olhos ao mirarem ao céu, pois não arde em teu peito a chama do amor, sequer sei se teu coração bate, ou se há muito jaz insepulto sobre a pele corada. Se estendesses as mãos, eu poderia tocá-las, as agarraria, prometeria proteger-lhe do mundo e caminharia contigo onde quer que fosses. Mas estende-as para outro norte, e nessa imundície escura eu não posso alcançar, e nem prefiro. Não sussurrarei os lamentos que se afundam na parte mais dolorosa de meu coração, pois não tenho sussurros a não ser da solidão que é minha irrevogável companhia.

''Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado(...)
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. ''

Vínicius de Morais, o Grande.