As visões de Eliza..




Nas manhãs de todas as estações do ano, levanto antes que Bernard pudesse abrir seus delicados olhinhos azul. Na cama, penso ver a visão de um anjo, longe, perdido em seus sonhos infantis, deve estar correndo livre pelas campinas douradas de sua infância, revivendo delírios juvenis de paixão, e aventuras. Fora um jovem tão forte e bonito, não que não o seja mais, pois às minhas retinas continua tão belo quanto à primeira vez que o vi, e talvez só continue para mim, onde o amor habita fazendo reviver ao longo dos dias a mesma chama do encanto. Onde eu estava? Ah sim, pois bem, eu levanto antes que ele possa acordar, sinto um pouco o cheiro-morno-de-seu-corpo-branco, escuto o barulho ritmado de sua respiração, embrulho seus pés corados e um pouco frios, arrumo suas pantufas, e respiro toda paz que isso me dá. Sigo para a cozinha, e logo o aroma de café moído ao fogo infesta o ar, pela janela o quintal carregado de pés de fruta e flor, os passarinhos arrumam seus ninhos no galho, e o verde-limão das árvores é iluminado pelo sol matutino. Bernard acorda, talvez seja o barulho dos pássaros, não quero admitir que fosse minha voz cantarolando baixo “Sertanejo, porque choras quando eu canto? Sertanejo, se esse canto é todo teu... Sertanejo, pra secar os teus olhinhos vá ouvir os passarinhos que cantam mais do que eu”, que o despertou, Bernard dá seus passos cautelosos e firmes até onde estou, e sorri porque ainda me encontro envolta de minha camisola rendada e bege, que se confunde com meu tom de pele. Seus olhos parecem cansados, mas continua tão forte quanto a noite passada, senta-se, leite quente, queijo, ovos, suco de laranja e pêssegos, é meu prazer vê-lo feliz. Conversamos sobre tudo, e às vezes me perco nos assuntos admirando seus lábios movendo-se em compasso com seu queixo (...). Não poderia ter outra pessoa ali sentada, não teria como ser outro, se somente Bernard faze-me suspirar as noites e dias de amor e graça. Depois que o dia passar deitará (deitaremos) numa rede, um violão e pouco de café, ou alguma coisa que lhe apeteça tomar pra ver a tarde passar, com as galinhas, os pássaros e o barulho dos galhos uns nos outros... E o barulho dos nossos corpos uns nos outros. E eu escrevo meu amor, escrevo pra que não morra fora dos sonhos, e escreverei todos os dias pra não te deixar morrer. 
Depois que os olhos se abrem, há apenas a visão do teto mórbido, e as fantasias dos sonhos se desfazem, restando apenas sensações de ter estado nos braços de quem nunca poderá estar aqui.







Evelyn Colaço

Comentários

  1. "E eu escrevo meu amor, escrevo pra que não morra fora dos sonhos, e escreverei todos os dias pra não te deixar morrer."
    Evelyn,que coisa mais doce e cheio de sensibilidade teu post,tentei encontrar uma frase para comentar,quase que não consigo de tão perfeito que está ;)
    Escrever para eternizar esse sentimento!
    Lindo lindo.
    que seu dia seja assim,repleto de coisas e sensações boas
    Beijos

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  2. "restando apenas sensações de ter estado nos braços de quem nunca poderá estar aqui." sei como é ter está sensação, sei como dói querer alguém que não se pode ter, sei bem como fere, como machuca, como sangra.

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  3. Nossa que lindo, estou sem palavras.

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  4. Suas palavras são de uma plástica admirável.
    Parece que escolhe as letras como uma cozinheira escolhe o feijão.
    Existem definições de amor por todos os cantos do planeta, mas a sua síntese é peculiar. E encanta.

    Vou seguir.

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  5. o que dizer? realmente não sei! Então te desejo uma linda semana.
    bjs

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  6. Todos os sentimentos intensos, inteiros sobrevivem em nós. Sempre e alimentá-los é o que faz de nós humanos a navegar num oceano de ilusões.
    Estava com saudades daqui, mas andei ausente e só agora percebo a falta que certas palavras me causa. rs


    bacio

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  7. Só acho que aqui é muito foda, simples assim.

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