Sonhos que correm nos rio(s) ...



Bernard,
Passaram-se tantos anos, como é possível que te escreva estas gastas palavras em linhas tortas, numa carta que jamais enviarei? Enquanto escrevo, imagino como seria se tu conhecesses os versos que esta prosa pobre lhes dita, mas de ímpeto, penso: melhor que continue assim, neste silêncio que não pertence a ninguém.
Arranco lembranças dos ares memoriais e envolvo-me com elas, neste desejo louco de sentir-lhe, outra vez, comigo. Coisa de pele, de coração. As tardes aqui continuam mornas, querido B. e o sol pairando nos fins de tarde sobre a relva verde, lembram-me os pores-do-sol que vi refletido em teus olhos enquanto de mãos dadas caminhávamos pelas estradinhas da Área Alfa. As noites, no entanto, são cada vez mais frias e o sopro do vento range a janela ao lado de meu leito, anunciando, nesta ausência de sorrisos, que adormecerei mais uma vez sozinha, sem que estejas entrelaçado aos meus braços. Como um sopro de poeira errante, procede à vida meio perdida dentre as brisas do destino.
Os prados verdejantes sensatos em meu pensamento dão-me doses de nostalgia tão áspera que penso um dia não mais poder suportar, essas lembranças de nós dois, vem e me enlouquecem. Reparo ao redor, a paisagem outonal traz-me um punhado de lágrimas rolando sobre as folhas amarelecidas ao chão, as árvores despem-se numa nudez lutuosa, sem flor exalante alguma, tornando sereno o quintal. Eu, no entanto, visto-me de saudade e ponho o chapéu de solidão, tudo se traduz no resto de sol alumiando o mar, um entardecer que nos define.
Enquanto flores e folhas descansam entre as curvas dos caminhos, os sonhos caem das palmas de minhas mãos velozmente, como as corredeiras daqueles rios que ficam após as campinas. Recorda desse amor Bernard? Sou eu tua Eliza
que um dia te amou...
                              e amará...



Como Vai Você - Adriana Calcanhoto


Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você?
Como vai você? - Adriana Calcanhoto

 


Comentários

  1. Vou imprimir e encadernar pra fazer um livro.
    Cada vez mais lindo, profundo e doce, minha linda!

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  2. Às vezes a gente só precisa disso mesmo, saber se o outro está bem, porque o ser humano tem dessas coisas... essa inquietação amorosa, esse laço perfeito, essa harmonia intrínseca, esse amor distante...

    Belas palavras, Evelyn. Grande beijo para ti,
    e leva o selo 101 de meu blog!

    Com amor,
    |Cynthia|

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  3. Essa é a música dos esquecidos amores. Sabe que me ative muito mais ao final da postagem. A Martha diz que..."saudade é não saber". Acho que é isso mesmo. E que atire a primeira pedra a mulher que nunca teve um amor de não saber, que atire onde possa juntar depois da dor de conhecer o que, que atire a segunda aquela que acha impossível esquecer, e que junte depois de perceber que como era pra ser, passou. Eu te garanto, por experiência própria: passa. Mas enquanto isso, deixa doer, deixa não saber, usa essa onda a teu favor. E então você vai poder olhar e dizer: obrigada. Eu falo bastante disso em "sobre is e pontos"

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  4. EVELYN...LEIO SEU BLOG ASSIDUAMENTE!

    E PELA 1 VEZ CRIEI O MEU.
    TU PODERIAS ME ENSINAR COMO COLOCAR MUSICA APOS MINHAS POSTAGENS...ACHEI ESSA IDEIA GENIAL!

    BEIJOS...SUCESSO!

    ME EMAIL É ANA.CIGANITA@HOTMAIL.COM

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  5. Evelyn,

    Na vida tudo renasce e se renova... até o amor!


    Beijos!
    AL

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  6. Estou repleta de cartas que não serão entregues e cartas que nem sequer foram escritas, mas há tantas coisas a dizer...

    Dói.

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  7. Dói muito não é?
    Lidissima carta Evelyn, deverias mandar, talvez ele te conte como estás.

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  8. conquistadoramente lindo o texto
    ;)

    bom passar aqui..
    beijos e flores

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  9. "talvez, ainda haja uma esperança, e eu largaria tudo." Amei. mas tem haver esperança.

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  10. ai que dor.
    sabe quando um texto dói e cada palavra remexe em algo que você já tinha prometido deixar quieto? então, você acabou de revirar cada fagulha de amor e saudade dentro de mim.

    Suas palavras são lindas, essa música é incrível, e a saudade encontrou e retomou seu espaço dentro de mim.

    Beijos :*

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  11. Ah, Evy, eu sei quanto doem saudades. Parece insuportável, mas seu coraçãozinho é mais forte do que você pensa, vejo isso pelo sentimento que você exala. As flores irão nascer de novo um dia para você. E você merece mais do que apenas flores. A corredeira rápida do rio trará seu Bernard de volta (:
    Abraços, querida,

    Ana Pontes

    http://anapontes-pensamentosavulsos.blogspot.com/

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