Manhãs de maio ...

Manhãs de maio, o outono me aquece de lembranças, deita e acorda comigo. Frio como os ventos boreais, como os gritos que rangem no silêncio febril das noites nesta cidade cinza e distante, fria é a solidão, a saudade contínua e imortal. Próximo de minha cama, alguns papéis e fotografias remexidas no chão, algumas palavras e promessas que eu preciso despediçar, o outono habita os dias embasbacando-os de nostalgia, não gosto disso. Resisto, é forte, desisto. Me rendo. Talvez um punhal rasgue todas as imagens de lembranças dentro do meu peito. Como recusar a face do cavaleiro que visita-me na cama em muitos dos meus sonhos? como conter os gritos inespremíveis de saudade? Por todas as perguntas, recebo o silêncio.
Sem que meus pés sintam o calejar nos calcanhares, desviarei as rotas e continuarei a seguir; a luz da lua será de noite minha guia, pelos dias o sol aquentará as minhas costas, numa solar inoscência da infância. Talvez as pedras do caminho sejam alguns sinais de que encontrei o caminho de volta para casa, ou não. Meu caminho seguirá o cheiro da mata noturno, o cheiro das águas adormecidas do luar me levarão para descansar nas montanhas distantes dos dias que vão acordar. Estrelas no céu reluzem como vagalumes, desenho nos troncos das árvores, á beirada das cercas deixo rastro aonde meus vestidos esvoaçam; ato minhas fitas amarelas nos galhinhos, e navego para casa. Sim, para casa. Quem dirá se Bernard encontrará minhas fitas e retalhos de vestido e os guardará com um beijo? A chanterelle das estradas de outono jaz secreta, e eu preciso descansar dos sonhos que eu nunca conheci.




Enya - Only time

Recomendo ouvir. Me traz calma escutar, sentir a canção.

E quem pode dizer quando o dia termina
se a noite guarda todo o seu coração ?

Enya - Only Time