Confissão

Era companheiro, intrínseco. Único amor, único amigo que dividia-me entre quatro paredes; quieto, quase não transmitindo sentimento algum. Tinha coração. Ou não? Era frio como o gelo, mas em minha pele sentia-o quente como as tardes de veraneio. Havia em Bernard muita coisa que eu não conhecera, porém sabia que havia nele um órgão que pulsava, sangrava, gritava meu nome em épocas  longícuas, hoje, esquecidas de sua memória.
Era humano, embora seus desejos não: completamente desonrosos e sinceros, intenções profundas e selvagens. Eu gostava. Eu gosto.
Os lábios rosados, sedentos, sussurravam contra meus tímpanos, a face pálida e fina, rente a minha boca esperava promessas, palavras, respostas, quem sabe. Mas, todo silêncio que intercalava os beijos em instantes, eram o bastante para calar todas as súplicas.
Neste momento frágil de outono, lanço-me nas entrelinhas e deixo-me viva, para que retorne em sonhos aos braços de Bernard.
Nos campos, nas ruas, nas madrugadas, na cabeceira com uma intacta fotografia, não importa, Bernard sempre está comigo, preenchendo meus pensamentos e lembranças. Com todos os traços, gestos, acentos, manias e letras escrevo estas emboloradas palavras que, tão mudas e escondidas jamais serão ouvidas outra vez.

De tua, ainda, menina Eliza.

Te protejo com minha vida

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Willie Nelson - You are always on my mind

''Você estava sempre em minha mente ...''

Willie Nelson - You are always on my mind