Dia seis




quartas são dias tipificados.

as quartas de nós dois possuíam sua própria topografia, identidade e assinatura biológica. era o dia que acordava com a pele mais rosada, o sangue pulsado e o límbico em alerta para qualquer sinal dele, que o coloque em transbordo de paixão.

.o corpo treme.

acordava contando quantas horas se passariam até que eu o visse novamente, um-metro-e-noventa-e-dois de vida.
sim, eu amanhecia contando os minutos, como criança que espera o recreio, lê-se para mim: o fim do expediente. era meu dia longe dele e não mais seria logo mais, era o meu recreio - feliz. poderia, nas tardes de quarta, o céu despencar em cinza na minha cabeça, porque à noite, o céu estrelado dos teus olhos enfeitariam qualquer sentimento ruim com enormes feixes de luz.

hoje, já passaram seis dias que não há uma notícia, uma palavra, imagem alguma, ou qualquer sinal meramente amigo/sincero. eu ando ocupando minha cabeça, horas, e dias, mas, agora eu não sei como vou sobreviver ao dia em que dessa vez eu tenho a plena-tácita-unilateral ceonvicção de que eu não o verei e talvez nunca mais o veja... talvez, também, ainda não saiba como lidar com isso, mas acho que estou no caminho certo.

certo que não posso desistir de mim, nem de tudo que já desisti por que escolheu trilhar outro caminho. mas, a verdade é que senti falta dele, em algum momento do dia - e por incrível que pareça não todos -  eu senti falta dele... senti saudade do abraço apertado que não soltava nunca, da cafungada no meu pescoço, das longas horas de conversas, destilado e rizadas ilimitadas, da minha mão da coxa dele enquanto dirigia e de quando colocava eu-sei-de-cor cantando na segunda voz baixinho.


eu sei que não vou mais partilhar dessas memórias, nem poderei fazê-las momentos outra vez, mas tenho a certeza que eu tentei ser o melhor que eu pude em cento e trinta e quatro dias de sua distância, uma vez por semana e vinte-e-quatro-horas online para os instantes de tristeza e necessidade emocional de-um-amor-ombro-amigo.

esse lindo dia de sol de quarta, vai finalizar sem qualquer alteração padrão do que estava acostumada, não há paixão, não haverá uma noite-de-amor-ardente-e-rizo-solto ou coisa semelhante, mas, há paz aqui dentro, e muita vontade de seguir adiante.


Hoje a mesa que era nossa naquele bar ficará vazia...

"Então, me diz, por que um raio cai?

Por que que o sol se vai?

Se a nuvem vem também

Por que você não vem?


É natural que seja assim você aí

E eu aqui, exatamente aqui"

Marcelo Jeneci

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