dia quatro.




como quem, estática, da varanda vê o carro partir

eu o perdi.... outra vez.

passou a segunda, terceira...  escutei os pneus - não deram ré - levando em segundos o meu amor póstero.

os primeiros cinco minutos no portão, na madrugada, eu não soube onde ir. lágrimas estatelaram na mudez do rasgo fino de o querer de volta. mas, ele foi, e eu fiquei. e eu não sei o que farei com todas essas palavras que ficaram suspensas no entrecortar da minha respiração aspirando: eu-o-amo, e  que ele não lerá - ele não vai ver - por que ele nunca mais virá -.

foi. carregou-se da munição dura da irreciprocidade, e foi sem mim. 

não olhou para trás e não deixou que o óbvio ficasse, também.

eu o perdi, numa quinta-feira, sertaneja, e fria de inverno, que não foi e que não vai embora daqui d'entro. deserto seco e árido, meias palavras... nada em nós é completude, está ocupado demais com seu mundo, onde, eu não tenho espaço, nem jardim, nem florescer, nem amizade.

perdi muitas coisas ao longo da vida, estranhei, distraí, esqueci, mas, disso não consigo sair, então eu fiquei... e vi... o futuro indo, de malas feitas - verdadeiras - embora.

eu o perdi. perdi as  palavras que sussurravas em meus ouvidos, valha me deus... perdi as cartas que te devolvi - e que eram a estação da minha consolação -.

e -  lentamente você vai ficando distante, assim como o cheiro do seu cabelo, que já nem é tão forte no meu travesseiro, e eu também estou indo embora... sem ter a escolha de ficar.

"Mas ora, você partiu antes de mim... Nem me deixou barco frágil pr'eu me salvar do naufrágio, que foi te dar meu coração"

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