No vácuo de um quarto no espaço sem fim.



.ele, chegou tão manso acolhendo-se no remanso de meus lençóis. um corpo, não qualquer, tão obrigatoriamente exposto em uma nudez lúcida e fantasiosa, remetia os meus sentidos, todos, ao cheiro puro da inocência, e me aguentava envolta em seu tecido de derme e ossos tão mais perfeitamente que os trapos de algodão colorido lançados a eira da minha cama. não havia nada que me aquentasse mais em tempos de frio e/ou calor, que aqueles braços de homem, carnudo com pelos e cheiro de pele, de pele humana com defeitos e efeitos graciosos. a ressaca daqueles olhos entupidos de mel, embriagavam-me de amor, e de algo muito próximo a gentileza dos versos de Machado de Assis, lembrava a canção que fazia-me largar chão a fora na ponta dos pés bailando como se o amanhã fosse uma penumbra bonita apesar de inesperada. eu era completamente composta de toda matéria daquele amor, palpável ou não, eu era toda nossa história, e nossos beijos. eu era e fui.. continuei sendo apenas amor, desta vez, apenas eu, eu continuo.. 
as intermináveis juras de amor shakespeariano, envoltas do lirismo formal de nossas bocas, faziam-me adentrar em um ciclo vicioso de prazer e redenção, tão envolta que me prendia os braços que desastrados perderam as rédeas do andar da carruagem, eu hoje não caibo na cama, não caibo no mar, nem me caibo na porção de eternidade sozinha. o mundo não me cabe e tudo que tenho comigo são os papéis amarelecidos com aquela letra tão singular, essas são as palavras que hoje perfuram meu peito como punhal, cada frase de amor reverte-se em um soco longo e comprimido ao estômago, e quando vomito, externamente lanço uma porção de letrinhas entristecidas e clichês, tudo se desfez tão rapidamente quanto começou, solto um debilitado fôlego de meus pulmões e baixinho clamo: “venha, venha-para-os-braços-que-ainda-são-tão-seus, venha-para-se-banhar-na-saliva-de-meus-carinhos-desmedidos e perdoe-me”. enquanto o dia corre, e a vida segue para lugares d’onde desconheço, o frio deste inverno além de trazer-me a paz de tua reciprocidade, não corta-me mais a pele, por quanto hoje, sou toda em pedaços depois que fostes, pedaços embaraçados nesta lama de indiferença. eu, ainda, te amo.. e se pouco souber, para sempre te amarei.

"Dizem que a vida é assim, cinco sentidos em mim.


Dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto, no espaço sem fim.

Aonde está você? Por que é que você foi? Não quero te esquecer


Mas já fiquei tão longe...Tão longe...

Não dá mais pra voltar, e eu nem me despedi.


Onde é que eu vim parar, por que eu fiquei tão longe?

Tão longe..."

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