(Re)nascer

Então vem-me essa vontade de confudir os sonhos com a realidade, e de olhos  fechados sentir a àgua refrescar meus pés.
Olhar o anil brando de um céu de primavera, me imaginar brisa e me sentir livre das amarras que me colocaram.
Desalentar dos dias quentes que foram-me agoniantes, para descansar no manto de nuvens alvo e delicado que veste-me por dentro, sentir o sal da água esverdeada secar a língua, o pulsar do mundo germinado em mim como a semente da criação, crescendo bem antes que sofra com os danos do mundo. Desejo correr e marcar na areia as pegadas que jamais a maré do mar poderá apagar, por que serão os registros da eternidade de pés que correm-flutuando pelos ventos do destino.
Voar, voar, sim, voar nas asas do vento, sobre o meu destino sinuoso de águia, que nas alturas faz-me ver a fantasia do existir culminando os poros de minha pele branca, fazendo-me deitar na orla e construir um castelo de emoções que levarei nas trouxas em toda viagem para a descoberta de novos prazeres. Prazeres mais frios ou mais quentes, debilitados ou intensos, mas contudo sensações que arrebatam o imaginário como o tocar de uma nova substancia, o aroma de um desconhecido cheiro jamais antes explorado, descobrindo o novo, o intrínseco do ser sendo conduzida por tuas mãos, que também são minhas, que são o abrigo em que escondo-me.

Perder-se é uma maneira de fazer novos caminhos e quebrar a rotina. Ninguém acha um atalho sem se perder antes.

[ Fabrício Carpinejar ]