Saudade


Longemente, percebo o fraco sol no horizonte coberto de neve. Posso sentir o gelo que permanece esfriando a esperança nas grutas do olhar, deixando, assim, refletir a dor. É verão pois, em Brasília, um verão frio, longo e chuvoso. Este vendaval não mais me assombra, é um frio calmo e suave, sem pedir feriu minha alma, e sim-nossas-almas, não quebrou correntes, quizá portões, entrou por uma fresta deixada ali; na janela, nos fundos, na porta, em qualquer lugar de nossas inseguranças.
 A chama candeeira da lâmpada apagou-se no momento em que deslocando-se os raios do horizonte, o sol pôs-se a invadir o quarto pela janela embaçada, uma luz que sem querer me traz fé, a luz de um anjo camponês amigo que solto, passeia nos ares da casa. Assim deixo-me ser entregue a esta, com a falsa ilusão de paz, como uma louca com uma imensidão de sonhos a realizar, por tão poucos segundos dura a ilusão. A ânsia de não querer acordar, leva á um labirinto perdido por entre fortes muros qual função única, é separar a realidade do sonhos. Nessa perdição, sinto saudades, saudades de mim que fiquei perdida pelos muros (com um pé na realidade e um pé no nos sonhos), dos olhos rurais que almejam as campinas florecidas de amor. Então choro com os braços estendidos pro infinito do céu, buscando forças em cinzas, mais fatigada da caminhada incerta que dos braços rogando socorro. Sem sentir espaços, formas, ou cores; estática, perdendo-me nos comboios da razão, do coração, ah o enganoso coração. As promessas que carrego nas mãos são como espinhos que crescem nas palmas, em algum instante acabam por ferir profundamente.
 Quando o sol morrer sem respostas no além, tentarei agarrar qualquer cheiro ou lembrança que não deixei  se perder nos campos do esquecimento ou morrer na entrega.
Fico neste lugar, neste instante inapreciável e sem gosto, com fotos empoeiradas e memórias enterradas, solene de uma alegria bucólica e de palavras que sumiram dos lábios como grãos de areia sucumbem no mar revolto.
 Aqui onde os gritos que quebram os silêncio são como sinfonias de uma música que costumeiramente ouço, percebo que não basta abrir a janela e ver as cores, os campos, a esperança nascendo em rios e a fé florescendo em flores, é preciso igualmente acreditar nos sonhos mesmo que a janela esteja tão emperrada que pense não mais ser possível abri-la. A pior parte é não ter onde se abrigar nas madrugadas solitárias, a pior parte é correr de seus próprios pesadelos e esconder de seus medos. Gozemos o tempo que nos resta, pois na vida ou na morte, algo sempre perdurará à eternidade.

Comentários

  1. Que saudade imensa essa.
    Lindo texto amiga !
    beijinhos ;*

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  2. Olá
    Vim fazer parte do seu cantinho...vou segui-la e estarei aqui todos os dias...
    Bjsss

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  3. a gente fala do que sente...
    beijo querida!

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  4. e do mesmo jeito que não sabes como falar da saudade, não sei mais como descrever como tuas palavras ecoaram por aqui. só parece que saíram de mim, que meu coração é que escreveu e não tu.


    você sempre me adivinha nos teus parágrafos, chega até ser revoltante.

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  5. Olá, Evelyn.

    Vim matar a saudade dos seus lindos textos. :)

    Esse, como de costume, está maravilhoso!

    Gostei, especialmente, deste trecho: "Quando o sol morrer sem respostas no além, tentarei agarrar qualquer cheiro ou lembrança que não deixei se perder nos campos do esquecimento ou morrer na entrega."

    Beijo grande no seu doce coração! :)

    PS: Como está o curso de Letras? Já começaram as aulas? Espero que esteja gostando... :)

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  6. Sim, minha cara. Por que não aproveitar o tempo? Mas é difícil ser racional e pensar nisso quando a nostalgia é tão grande. Afinal, o que o coração entende por racionalidade? Mas, mesmo parecendo cruel, devo dizer que acho a sua nostalgia algo lindo de se observar.
    Há muito a desesperança assola-me com seus sussurros inoportunos sempre me fazendo desistir e sentir como lixo. O que posso fazer, se tenho mais do que mereço?! A única coisa que posso pensar é que sou muito ingrata. Mesmo assim, eu vou levando a vida, pensado em alguma forma de desemperrar a janela, pois eu quero ver o sol brilhar de novo para mim, quero estar perto das coisas e das pessoas que amo. E aí me vem a reflexão de que o mundo também é por demais chato e cheio de regras que eu não sei porque obedecemos. Por que não sair por aí à procura de Bernard, por que não lutar com ele na guerra? Não sei. Somos presos e alienados, é um fado. Mas eu continuo, minha amiga, a desejar-te sorte e torcer por você.
    Adoro quando cometa no meu blog, eu gosto quando as pessoas me leem. ;)
    Grande abraço,
    Ana Pontes

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  7. Enfim, eu te li, te reli..
    você é linda, é minha amiga..

    só quem sabe da história, quem tá pertinho e juntinho de você sempre sabe o que vocÊ ta passando.

    mas isso tudo vai acabar, quando menos esperar você vai ter a resposta certa..

    amo-te!

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  8. Os adultos vivem dizendo que a adolesc|ência é um dos periodos mais marcantes da vida. Mais o que o adolescente pensa disso?:

    Visita meu blog?


    http://blogdeumagarotaadolescente.blogspot.com/

    Se gostar do meu blog, segue lá, ficarei muiito feliz.
    Beijos e desde já obrigada Tainã Almeida

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