des - amor
.a verdade ainda faz jus a mentira, se houve dolo ou não, se houve farpas ou não, se houve dedos ou não. houve amor. houve paz. houve nós - assim, independente de qualquer fatídico acontecimento.
houve: eu-ter-que-me-apaixonar-perdidamente-por-ele. Há agora, o último cigarro acesso, borrando meu batom vermelho, borrando as aquelas lembranças sutis que vem sorrateando pelas pernas e sobem ao nariz com aquele cheiro peculiar a qual eu estava acostumada.
amor, paixão, ódio: não se explicam. não se aplicam.
não se explica enquanto o contato da nossa pele ainda queima, quando o jogo mental e suicida do término não nos deixa adormecer nas madrugadas vazias possuída de ruelas onde todos vivem e morrem e eu só pensando na imagem nítida dele... e digo-vos leitor, divo-vos sobre o beijo, a pele, a cicatriz na boca, a língua, a saliva, os lábios - quentes -, as discussões, os desgastes, o estar-comigo-o-tempo-inteiro... eu vos falaria leitor, mas, as laudas seriam intermináveis e maçantes, pois tudo é vão e repetitivo, e eu gosto... beijos repetitivos, toques repetitivos, calo-me... é o fim, portanto, calo-me, calo-me nesta ausência com cheiro de saudade e cerveja. emudeço-me ao entrar no apartamento silencioso e por onde eu olhar tem a marca de seus dedos, tem o cheiro do teu couro cabeludo, tem o gosto do teu corpo e suas digitais sobre a geladeiro. emudeço-me enquanto as lágrimas lavam a face gélida, que se olhassem neste instante haveria uma prece para que retornes... no entanto, evito contatos ásperos, farpas na mente e no peito.. e vou evitando, vivendo, evitando, e lembrando, esquecendo.. e até de esquecer não me lembro...
.enquanto escrevo e as lágrimas correm, repenso que antes os segundos pareciam-se horas sem ele, e hoje sem que eu possa fazer nada, as horas são muito sinceras quanto tornam-se dias de afastamento e não o trazem de volta.
.eu posso fazer tudo certo, ou errado, mas, perco-me na distinção dos dois, concluo que - no amor não há conclusões objetivas, não é história ou matemática, pois até eu e ele ao invés de dois, fomos, somos um.
.fomos - somos - sórdidos, mórbidos, inconstantes e apaixonados... fomos e somos o fim agora.
.da paixão, do verão, das estações juntas, por tudo isso eu fito os olhos no céu trêmulo e choro, choro enquanto meu cigarro é corroído pelo mesmo fogo que me queima, me arde e me destrói por dentro. nós - éramos cento e um por cento amor e pele, agora... consumidos pela dor - pelo ardor - pela separação, e agora que me veio a mente vomito em vos a vontade dos braços. dos braços? são quentes e macios, ou foram? já não são mais meus, e eu dele.. e eu ainda dele... ainda...
.parafraseando em um lugar onde não me caibo o cigarro já queima meu dedos no fim - como o nosso fim - assim com o queima o meu peito, e, eu só tenho uma certeza - só há ele, só houve ele, só houve amor... e não há mais... não nele, não pra nós.
.puro
.sincero
.amor
.e assim eu o amo. em versos. em prosas. dores. e distancias. assim eu o amo, e só assim será: guardado comigo, no silêncio da minha mente, assim será.
"Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós.
Só mais ou menos"
Nunca entendemos então por que nós.
Só mais ou menos"
Marcelo Jeneci
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