Das partidas (in)dertemináveis

Não olho o relógio. Assim as horas parecem rastejantes, e então só assim não vejo o tempo passar.
Assim não vejo você partindo. Tão lento, mais tão rápido, saindo da palma das minhas mãos para um lugar que eu desconheço. Não vá. Por favor, fique mais um pouco. Como posso aceitar nossos caminhos bifurcados dentro de nosso lar? Até onde dura a dor de não saber como amar? De não saber como tirar essa dor de você? Acaso haverá uma luz para fazer renascer a chama do amor em nós? Enlouqueço sem as respostas, e quem as tem que possa me dar? Insuportável ver suas malas prontas, ver um filme da vida passar sob seus olhos e saber que estamos nas cenas, que logo serão apenas embaços em dias de chuvas.
E as lembranças, lembranças que os tantos anos regaram.. o que farei? Por favor, fique, fique e sinta o quanto amor posso lhe dar. Não aguentarei o vazio nos lençóis, o lado da cama vazio também. Como não fazer café quente pela manhã? Sentirei falta do cheiro do nosso apê, dos fins de tarde na varanda, das corridas de sábado, dos abraços que fazem sumir os problemas por um instante e protegem de tudo. Não faltará só sua presença, faltará um pedaço do meu corpo, da minha alma que jamais serão completos.
Fique mais um pouco. Fique para sempre. Até onde nossas concepções de "sempre" forem iguais.

''Um final de programa
Fim de madrugada
O aconchego na cama
A luz apagada
Essas coisas somente com o tempo
Se pode esquecer''

Roberto Carlos